Primitivamente elaborado na Índia, o livro celebrizou-se por meio de sua adaptação para o árabe no século VIII d.C., realizada por um letrado muçulmano de origem persa, Ibn Almuqaffac. Difundiu-se por quase todo o Velho Mundo, pois há registro de inúmeras traduções que vão do Tibete à Península Ibérica. O título é metonímico, tomando a parte pelo todo, uma vez que Kalíla e Dimna são os nomes de dois chacais, que figuram somente nos dois primeiros capítulos. Pelas suas características, Kalíla e Dimna é uma obra que se presta não só ao estudo de algumas concepções políticas medievais mas também ao simples deleite com suas narrativas fluentes e agradáveis, que lhe têm granjeado enorme popularidade, encantando sucessivas gerações. Elogio da astúcia e da sagacidade, há quem a considere um autêntico precursor de Maquiavel. Ao longo da Idade Média, o Livro de Kalila e Dimna constituiu uma espécie de pequena enciclopédia na qual saberes e decoros eram apresentados em chave alegórica mediante ações e diálogos de animais, mas também de seres humanos. Esta tradução, a primeira integral feita ao português a partir dos originais árabes, foi enriquecida por anexos e um minucioso aparato crítico destinado aos estudiosos do assunto.