O alarme do relógio perdido no escritório de casa soa duas vezes por dia. Quando ouve o som, o repórter tem o impulso de procurá-lo, mas logo o bip cessa e ele deixa o relógio para lá, assim como deixa pra lá todos os dias o porteiro da emissora em que trabalha. Certa noite recebe um telefonema: seu Pedro morreu com um livro seu sobre o colo. "O laçador de cães" apresenta histórias de gente que está em constante conflito com o outro, que faz da relação com seus pares seus um motivo para continuar vivendo. Nos textos, o apresentador de TV busca no drama de um ladrão de galinhas alguns pontos a mais de audiência; o radialista faz das histórias que reescreve e narra numa rádio popular a desculpa para não viver; a presidiária sonha com a liberdade e seduz o carcereiro vítima de um casamento falido; o policial militar vê sua paixão se entregar para um garoto durante o baile de carnaval; o repórter conhece a cidade através das suas reportagens, mas ignora o porteiro da emissora onde trabalha; e ainda o próprio laçador de cães, que acaba sendo dominado pelo olhar de liberdade de um velho pastor alemão que prende na rua. Em contos que tratam o ser humano com rigor e generosidade, Andrioli media e envolve o leitor no embate, escrevendo antagonismos que se percebe não serem com o outro. São consigo mesmo. O outro é apenas a forma dos personagens irem se modificando.