No maior aterro sanitário da América Latina, em Jardim Gramacho, Duque de Caxias, zona metropolitana do Rio de Janeiro, milhares de brasileiros vivem do lixo, retirando dos detritos sua própria sobrevivência. Em meio a uma desoladora paisagem de imensas proporções, os catadores de lixo tentam manter sua rotina, resgatando do lixo objetos aparentemente sem serventia que acabam por se revelar peculiares instrumentos de subsistência. Como a arte poderia se inserir num ambiente tão inóspito e, por fim, modificá-lo em certo grau? Tal indagação perpassa o novo livro de Vik Muniz, Lixo Extraordinário, que surge como testemunho da atividade do artista junto aos catadores de Jardim Gramacho. Dando sequência ao registro do trabalho de Vik com os trabalhadores do aterro sanitário presente no documentário homônimo lançado em 2009, Lixo Extraordinário traz, além de mais de uma centena de imagens retratando o dia a dia dos catadores e os bastidores das filmagens, as obras para as quais eles serviram como modelos, partindo da transformação de restos, seu meio de sobrevivência, em arte. Entremeado por citações de Os sertões, de Euclides da Cunha, o livro narra, em imagens e nos textos de Alexei Bueno e do próprio Vik, a trajetória dessas surpreendentes metamorfoses, da dignificação de vidas num cenário que muitos julgariam desesperançado.