Ausência. São poucos os autores que conseguem seduzir o leitor com aquilo que não está presente, com aquilo que poderia ter sido. Agota Kristof é esse tipo de autora. Foragida da sua Hungria natal pelo terror da face mais cruel do comunismo, Kristof escreve como uma refugiada de tudo. A opressão do mundo atual e os sentimentos de perda já tinham sido trabalhados na história dos gêmeos Lucas e Claus, que compõe a trilogia da autora (Um caderno e tanto, A prova, A terceira mentira). Desde que se separaram, aos quatro anos, no dia em que a própria mãe baleou o pai, os gêmeos passaram a vida à procura do outro. Desencantados com a vida, eles transformaram a farsa, a mentira, o ceticismo, a amargura e a angústia em armas com as quais pudessem lutar contra o vazio que os perseguia. Agota Kristof parece exorcizar os mesmos fantasmas em seus livros, chegando a momentos de profunda beleza poética como em “Ontem”. A farsa e a angústia do elemento ausente permeiam essa “história de um grande amor impossível”. Ao mesmo tempo, a autora faz uma reflexão sobre a passagem do tempo, as injustiças e hipocrisias contemporâneas.