Em Depois do medo, o começo das coisas devia ser abolido. Sobretudo, se esse começo projetar um local cuja autenticidade é assediada pelo meio em que ela se cria. Se o meio é a mensagem como nos propunha McLuhan, de onde nos vem a certeza da existência das coisas quando um meio quente, um que prolonga apenas um único dos sentidos em alta definição, pode ser toda a exegese do real? Uma jornalista sabe tanto de uma pandemia como uma dramaturga. Ambas se desdobram em informação que simultaneamente expõem e constroem. São estas sinuosidades da realidade sempre demasiado íntima que corrigem constantemente a exatidão incorpórea da história e também deste texto. Se é possível matar-se um pai com um abraço, certamente podemos também fazer uma revolução com a parte lilás dos olhos. Nenhuma possibilidade deve ser descartada quando uma leitura linear e unilateral de acontecimentos se apodera de nós como uma reminiscência de propaganda que não pode gerar nada menos do que episódios (...)