Com fôlego extraordinário, do alto de seus quase noventa anos, José Ramos Tinhorão apresenta neste livro o resultado de suas mais recentes pesquisas. Trabalhando com sua faceta de historiador, mais do que a de crítico de música popular, o autor traça aqui um percurso único: acompanha a busca dos reinos europeus, desde o século XII, por um aliado cristão na retaguarda do império muçulmano, detém-se na conquista da África Ocidental pelos portugueses na Era dos Descobrimentos, e chega até o aparecimento da festa popular da congada no Brasil, no final do século XVII. A relação entre esses fatos aparentemente desconexos, que envolvem a longue durée da história, é reconstituída de forma brilhante pelo autor, que aponta o elemento-chave da equação: a figura do Rei do Congo, criação artificial da diplomacia portuguesa que, em 1491, transformou em reino cristão, nos moldes europeus, as tribos da primeira região da costa atlântica africana livre da influência islâmica. Daí para as manifestações folclóricas no Brasil, o fio condutor será o tráfico negreiro, que acaba por dominar as relações entre Portugal e África, submetendo "súditos cristãos" do reino do Congo a trabalhos forçados nas colônias lusitanas. Fechando o círculo, Tinhorão destaca o surgimento da congada enquanto forma de expressão dos escravos que, oriundos daquele reino, evocavam simbolicamente a antiga "aliança" com Portugal para se defender da opressão de seus senhores.Jose Ramos Tinhorao aborda neste estudo inedito as relacoes entre tres momentos historicos distintos: a busca dos reinos europeus, desde o seculo XII, por um aliado cristao na retaguarda do imperio muculmano; a conquista da Africa Ocidental pelos portugueses na Era dos Descobrimentos; e o aparecimento da festa popular da congada no Brasil, no final do seculo XVII. Como peca-chave que articula esses elementos, o autor analisa a figura do Rei do Congo, criacao artificial da diplomacia portuguesa que, em 1491, transformou em reino cristao, nos moldes europeus, as tribos da primeira regiao da costa atlantica africana livre da influencia islamica.