Será mesmo o poeta um vaticínio do mundo? Em Novíssimo marginal, Lou Albergaria propõe três espécies de jogos de presencialidade: a poesia como uma reflexão sobre a nossa po - sição no mundo, a poesia como uma ópera atravessando o mundo, a poesia como partida e fim do mundo. Dividido em três portas percep - tivas, Novíssimo marginal nos cha - ma para dentro, para um confronto de resultado imprevisível. Na série de poemas “Relógio \\ Sol inverso”, as palavras operam em cadências que re - montam ao início dos tempos, reme - morando também isso de ser e estar no mundo: “Ganhar a vida / Perder o dia / No seu laço” e “somos somente relógios / e o desejo / de não sermos / consumidos / pela pior versão de nós mesmos” nos espelham, são os “sinais dos templos”, como verseja Lou. “Poeta Experimental” apresenta uma descida às profundezas da linguagem, em que a poesia e o desejo caminham em permanente combustão, fazendo de nossa existência um estacionamento de sensações contrastantes: “O corte drástico / em nossas tripas (nos uniu) / para sempre / esse gosto diferente / que temos sobre a vida” Por fim, “Banquete c/ Sibilas & Bruxos” opera no limiar da existência: renascimento e morte, o amor a tiraco - lo (e o desejo ali, à espreita, como um leão no cume da noite): “o útero e todo Lou Albergaria N O V Í S S I M O MARGINAL Lou Albergaria o seu estoque de esperança / as dores e todo o seu estoque de brisa / e resiliên - cia // o amor e a sua cura”. Três etapas, três momentos, três formas sacras de enxergar a vida e os passamentos, ser carnal, ser social, ser espiritual. Novíssimo marginal não deixa de nos lembrar que somos a lin - guagem que queremos negar e que a poesia é este sonho condensado diante do mundo que quer se espatifar: “o que sobraria dos leões sem os palcos?”.