Numa falsa república porque fictícia e porque farsesca , o presidente está prestes a implementar uma dramática transformação: aumentar os seus poderes declarando-se califa. Às suas costas, um grupo de políticos e de altos funcionários de Estado conspira a sua morte. Aliciam um seu antigo desafeto, certo poeta bucólico de quem roubara a esposa. O próprio presidente se arvorando em literato, a narração (que assume, em alternância, o fluxo de consciência dos três protagonistas: poeta, presidente e primeira-dama) conjuga uma retórica refinada e de ritmo inconfundivelmente poético com a revelação escrachada da torpeza em que vivem os habitantes do país. Poeta forjado no estudo dos clássicos, Érico Nogueira logra, nesta sua primeira novela, recuperar o espanto de Camões originalmente direcionado à vulnerabilidade do ser humano, podendo sempre a cólera divina voltar-se contra esse bicho da terra tão pequeno, mas agora o orientando à mesquinhez dos homens, e, ainda mais concretamente, à dos homens desta terra. Essa história de trapaças, hipocrisia e corrupção vai cativar você do começo ao fim.