Estação Paraíso reúne um conjunto de poemas criados e escritos no interior da dinâmica da luta de classes (da política), no seu sentido mais amplo e profundo em seus mais diversos fronts. Essa unidade não se constitui, entretanto, em um panfleto propagandista, como tampouco se propõe a ser um olhar neutro sobre a realidade em que foi produzida. Ela busca captar a dinâmica e o movimento da matéria, da sociedade, dos homens e mulheres - sujeitos que agiram e agem na história, interferindo e buscando definir seu curso. Nesse sentido, a forma sob a qual essa realidade nos é exposta dá o tom e o teor do posicionamento do autor frente à disputa pelas classes de seus interesses e projetos. Particularidade e universalidade dialogam ao longo do livro, tanto no que diz respeito ao tempo quanto ao espaço, como também à temática. Passando por temas específicos de sua época, mas que não se fecham em si, suscitam essa ligação com questões objetivas colocadas pelos embates, e caras a todos os que se comprometem com a transformação da sociedade. Cabe ressaltar que este caráter pode não estar explícito nos textos, que em parte não tratam diretamente de lutas, ações revolucionárias ou bandeiras tremulando. Nestes, a questão política se traduz no tratamento dado a experiências de vida, ao movimento da realidade, a partir de um ponto de vista crítico-militante. Diferentemente daquilo que postulam os dogmáticos, a compreensão que Estação Paraíso tem de crítica e militância não se traduz em propagandismo raso. Ao contrário, ela resulta em uma práxis, em um que-fazer político que se traduz em ações e poemas. (Miguel Yoshida)