Niterói é um charme ! Simples assim. E o livro de Joaquim da Fonseca revela esse segredinho guardado por aqueles que moram do lado de cá da Baía de Guanabara. É como abrir uma concha e descobrir, lá dentro, uma pérola. Uma espécie de discreto charme que o niteroiense, igualmente discreto, não divulga pelos quatro cantos. Prefere a surpresa, manter o sabor da descoberta aos que visitam a 'cidade sorriso'. O processo de revelação começa quase sempre com aquela surrada piada-provocação; a vista mais bonita de Niterói é a do Rio de Janeiro. A resposta matreira é um convite irrecusável para passear por aqui. O dia pode começar com uma visita ao Mercado de Peixe, seguido de um pulo a uma das nossas praias oceânicas. Que tal? Lá, nada do caos do trânsito interferindo no som das ondas. A cantada continua - ângulos inusitados do Pão de Açúcar, jogar conversa fora em um boteco de verdade e terminar o dia assistindo ao pôr-do-sol do alto do Parque da Cidade. Ah, as crianças ainda podem brincar de carrinho bate-bate no Campo de São Bento! Aviso amigo - cuidado ao aceitar tal convite, pois a chance de não querer mais abandonar o ritmo cadenciado e repleto deste discreto charme da vida niteroiense é grande. Quer fazer um teste? Abra este livro... Mas nem tudo são flores. Niterói, hoje, enfrenta a fúria dos piratas da construção civil - que querem, a todo custo, saquear este bucolismo - e a permissividade do poder público. Neste sentido, as aquarelas de Joaquim da Fonseca são um alento e um alerta. Um alento porque os traços do artista gaúcho captaram a verdadeira alma da cidade; a de lugar para se viver em paz, convivendo com a beleza arquitetônica e a arte, com o mar e o cais, com os mitos e os costumes só nossos. E um alerta de que esta Niterói corre o risco de se perder para sempre na teia da especulação imobiliária.