Poucas nações indígenas marcaram tanto o imaginário europeu quanto os Tupinambás. Descritos por viajantes em best-sellers (para os padrões da época) europeus dos séculos XVI e XVII como índios de verve guerreira, com apreço pela antropofagia e pela luta feroz contra os invasores portugueses, os Tupinambás sucumbiram ao genocídio da colonização (embora algumas tribos se autodenominem seus descendentes). Em 1951, num mundo ainda traumatizado pelo maior conflito armado da história, o jovem professor e sociólogo da Universidade de São Paulo, Florestan Fernandes, faz de sua tese de doutorado um ambicioso estudo sobre a guerra na extinta sociedade Tupinambá. E, já que não poderia observá-los in loco, o faz por meio da leitura minuciosa de relatos e narrativas produzidos pelos viajantes europeus. O resultado é uma obra-prima: não há, cinqüenta anos depois, nenhum estudo equivalente sobre os