"Abriu a segunda mala e desembrulhou a parte inferior do corpo e os membros. Ali estava, diante dele, um corpo sem cabeça deitado de costas. Estava com a cabeça nas mãos. Virou-se e, através do tecido, viu o perfil de um nariz e os contornos imprecisos de um rosto. "A descrição de um corpo sendo serrado em partes e, aos poucos, colocado em duas malas, entra impiedosamente nos domínios do macabro, da náusea. McEwan pretende mostrar os vícios e virtudes humanas, a violência e o horror, como prova de que somos igualmente capazes do oposto. "O inocente" parte da história real da Operação Ouro, que durante os anos 1955-56 pretendeu construir um túnel para interceptar a comunicação no setor russo de Berlim Oriental. Neste cenário de ficção histórica, minuciosamente descrito, surgem experiências surpreendentes, que incluem o kitsch (lembrança do próprio nazismo), a violência, a sexualidade bruta, o terror e, em meio a tudo isso, a inocência possível.