O presente livro aprofunda os debates acerca da educação do campo na Amazônia, compreendo-a num cenário onde os processos de construção do conhecimento se concretizam nas mais diversas formas e situações, vivenciadas por meio das lutas sociais por políticas públicas, organizadas pelos sujeitos, individuais e coletivos, do campo. Sabe-se que a educação do campo, na estreita articulação com os movimentos sociais, é um processo permanente de lutas e construção histórica. Compreender suas origens e finalidades é imprescindível para consolidar as reflexões acerca do seu papel frente a Amazônia contemporânea. As reflexões sobre as políticas públicas de educação do campo na Amazônia devem dialogar com a diversidade de concepções deste território. Logicamente que, tratando-se de Amazônia, as análises devem considerar as formas de ocupação e os objetivos do poder público que transformam esse espaço, num campo de interesses e especulações do capital, frente aos desejos e histórias de vida das populações tradicionais. Nossa intenção não é entender o mérito sobre o processo de ocupação da Amazônia, mas compreender que ela é marcada pela entrada do capital e o consentimento dos governos, que a enxergavam com bastante potencial para exploração de suas riquezas naturais. No século XX, com o lema Homens sem terra do nordeste, para terras sem homens da Amazônia, o governo incentivou a migração de milhares de pessoas, em especial, do nordeste brasileiro. As famílias que conseguiram se fixar, contribuíram (juntamente com as populações indígenas e quilombolas) na consolidação dos povoados, vilas e cidades. Esses sujeitos, individuais e coletivos, vivenciaram, por muitos anos, a falta de acesso às políticas públicas sem, no entanto, perder o desejo de lutar, cotidianamente, por melhores condições de vida.