João Guimarães Rosa tinha mania de olhar os bichos, para tentar entender melhor o homem e o mundo. Por isso, em Zôo - livro feito para crianças, mas capaz emocionar adultos - Luiz Raul Machado reuniu algumas notas e reflexões de João Guimarães Rosa sobre animais e os zoológicos das grandes cidades as quais visitava. Com ilustrações de Roger Mello, a edição é um livro-objeto, que se abre conforme o leitor cumpre a leitura. Ao final se tem uma grande folha desenhada e contada sobre a mesa, com todo o texto e imagem integrados. As definições de Rosa, aliás, já são uma inteligente brincadeira com a relação entre as palavras e o que elas representam: "Onça - tanta coisa dura, entre boca e olhos"; "O bagre tem sempre as barbas de molho". E iniciam as crianças não só na imaginação sem limite do escritor, mas também na ousadia com que tratava os aspectos formais da língua: há desde aliterações musicais (Um pingüim: em pé, em paz, em pose") à neologismos ("O polvo aos pulos: negregado, o oitopatas, seus olhinhos imensamente defensivos, sua barriga muito movente: polvo da cabeça aos pés"), passando por pequenas "corrupções" da norma culta ("A cigarra cheia de ci").