Este livro aborda a correspondência epistolar e as sociabilidades de Celsina Teixeira, uma fazendeira do Alto Sertão da Bahia, entre 1901 e 1927. Traz uma contribuição fundamental para os estudos das relações de gênero no Brasil, ao elaborar com sutileza o seu espaço de autonomia, ocultado pelo discurso ideológico dos papéis prescritos para as mulheres de elite. Marcos Profeta demonstra uma extraordinária vocação para a interpretação histórica ao nos revelar os parâmetros nos quais Celsina Teixeira se enquadrava e através de que silêncios e ocultamentos exercia sua vontade, sua energia de administradora dos negócios e de mulher atuante na política local. É interessante como, justamente através da palavra escrita, o autor faça com tanto sucesso a crítica dos valores culturais que atribuíam às mulheres espaços pouco privilegiados na sociedade.De leitura muito agradável, este livro revela também as qualidades intelectuais de um pesquisador feminista, o que por si só já surpreende, mas não tanto quanto nos causa impacto o seu modo peculiar de escrever aprofundando as contradições das cartas, reveladoras da vida de grandes desafios econômicos das famílias de elite do sertão, da enorme pressão representada pelas secas e pelo clima inóspito e imprevisível da região, a exigir de uma mentalidade tradicional e religiosa imensa capacidade de improviso.