Em um campo de refugiados nas cercanias de Beirute, o velho Yunis repousa em coma profundo. Há três longos meses, o herói da resistência palestina jaz inerte sobre o leito do improvisado Hospital Galiléia. Morto ou vivo? Alheio ou consciente? São essas as perguntas feitas por Khalil, médico e filho espiritual do enfermo. Negando-se a aceitar o fato de que seu herói talvez nunca mais volte à consciência, o jovem seguidor se mantém em vigília constante, repassando — tal qual Xerezade dos dias de hoje — a extraordinária história de vida de Yunis, que é, nada menos que a saga do povo palestinoNa juventude, o velho combatente se casara com a jovem Nahila. Entretanto, a esposa fica na Galiléia e se torna cidadã israelense. Yunis, por sua vez envolvido na Resistência, vive no campo de refugiados de Chatila, no Líbano. A ele caberia atravessar clandestinamente a fronteira para se encontrar com Nahila, em breves encontros na caverna de Bab Alchams, ou Porta do Sol. Valendo-se das histórias contadas e recontadas ao longo dos anos nos campos de refugiados palestinos, o libanês Elias Khoury entretece, magistralmente, o meio século de história de um povo: da Diáspora (1948) ao aperto de mãos de Arafat e Rabin em Washington (1993), passando pela invasão israelense ao Líbano e o massacre de Sabra e Chatila (1982)