A atualidade e a originalidade da obra de Louis Lavelle encerram-se em duas palavras: espiritua-lidade filosófica. Não se trata de uma espiritualidade religiosa, como a que caracteriza os grandes santos. Poder-se-ia dizer que o único predecessor de Lavelle é Nicolas Malebranche (1638-1715), contemporâneo de Luís XIV; e Lavelle reconheceu sua dívida para com esse filósofo. É preciso destacar ainda que Malebranche visa expressamente reconciliar a fé cristã e a démarche racional, enquanto Lavelle não é um filósofo explicitamente religioso, embora o cristianismo esteja muito amiúde presente como pano de fundo de seu pensamento. Mas, precisamente, a atualidade de Lavelle decorre de ele propor ao homem de hoje em busca de alimentos para a alma uma espiritualidade que não supõe nenhuma fé religiosa, nenhum envolvimento particular em determinada confissão. Essa espiritualidade filosófica, que já era a de Platão, foi renovada por Lavelle, e as Regras da Vida Cotidiana, que ele havia escrito para seu próprio uso como um "livro de razão", são disso um maravilhoso testemunho.