O desenvolvimento de nossos próprios sentidos e a descoberta de novos limites para suas expansões, é a proposta central que apresenta este livro de Sérgio Sá. São reflexões e relatos de experiências vividas pelo autor, em um depoimento sensível e tocante sobre sua condição de deficiente visual e sua relação com o mundo. Cego de nascença, Sérgio teve sua sensibilidade trabalhada com cuidado e carinho, esculpida por uma família atenta e preocupada em "adequá-lo" à vida numa sociedade tão preconceituosa quanto repressora. O fio condutor da obra está na sugestão que o autor nos faz para que criemos novas maneiras de ver, ouvir, sentir, lidar com o mundo. Para isso, devemos reavaliar o potencial de nossos recursos físicos - tato, audição, olfato e paladar -, mentais e espirituais - nossa capacidade de perdoar, de compreender, de julgar sem condenar. Temas como a integração social do deficiente físico, a supervalorização da imagem nos dias atuais, conflitos entre individualismo e auto-estima se apresentam de maneira simples e instigante: "A cultura da imagem, tão forte, capaz de anestesiar os sentidos, (...) leva-nos a renunciar a multiplicidade. Agora sei que não é preciso apenas ver para crer; podemos também ouvir para acreditar, cheirar para compreender, sentir o paladar para aprender, tocar para interagir!"