Neste livro, resultante de intensa pesquisa de doutorado, Francisco Veríssimo estabelece um importante e necessário diálogo entre a filosofia e a literatura ao relacionar o pensamento dos filósofos Gilles Deleuze e Félix Guatarri com o poema Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto. Longe da tentativa, necessariamente frustrada, de tentar “explicar” a Ética Severina à luz de conceitos gauto-deleuzianos, com isso pressupondo a superioridade do campo filosófico sobre o artístico-poético, Veríssimo se propõe a pensar a existência severina com voz própria, tendo os filósofos por interlocutores. O filósofo Deleuze afirmou que a tela diante do pintor nunca está em branco, pois as imagens mais conhecidas, os lugares comuns e clichês sempre estão presentes de antemão. O mesmo pode ser dito a respeito de todos os demais processos criativos, como a escrita, por exemplo. A repetição estéril de ideias e palavras gastas e banais é um caminho fácil e confortável, mas o que nos é apresentado em Por uma ética Severina surge de uma perceptível necessidade criativa movida por inquietação existencial do autor. Veríssimo desenvolve um pensamento povoado de afetos imbuídos de encontrar nos versos de Morte e Vida Severina aquilo que não chegou a ser escrito. Não se trata de parafrasear ou tentar decodificar o poema numa espécie de exegese analítica, mas de se tornar cocriador dos potentes pensamentos que atravessam o poeta João Cabral. Ética Severina é um dos principais conceitos criados e apresentados por Francisco Veríssimo nesta obra. Diferente de uma ética nos moldes clássicos do ethos grego por surgir da leitura do poema, articulada com o espaço-tempo de seu autor e do Brasil contemporâneo. Remete, portanto, à revoltante situação de desigualdade social e à necessária resistência da luta pela sobrevivência num sistema capitalista perverso e cada vez mais voraz. Nas palavras do autor em interlocução com Deleuze, “a literatura, aparece como uma proposta de saúde (como resposta