É com muita alegria que a Coleção X reedita este lindo livro de Rosa Dias. “As paixões tristes. Lupicínio e a dor-de-cotovelo” é um grande livro, em primeiro lugar, por sua miudeza. É um livro extremamente delicado, miúdo no sentido que Luiz Antonio Simas retira dos ensinamentos do Caboclo Pedra Preta e dos Boiadeiros: é a pedrinha miudinha de Aruanda que se opões aos grandes lajedos da metafísica, da hermenêutica ou de qualquer sistematização. Se Rosa, caçadora de pequenos encantos, retira suas pérolas de cada música do disco de Lupicínio, sua oferta generosa a nós, leitores, só poderia ser na forma de outro entremeamento de pequenas lindezas, também pequenino, singular e brilhante, como essa joia em forma de livro que aqui publicamos. Não se trata aqui, de modo algum, de categorizar a musicalidade e a lírica de Lupicínio. Ao contrário, Rosa procede uma espécie de invocação, chamando Lupicínio a falar conosco. O procedimento de Rosa, com o qual muitos filósofos e estetas deveriam aprender, consiste em deixar que seu “objeto” deixe de ser objeto, sendo Lupicínio, então, protagonista de suas dores-de-cotovelo. Outra belezura deste livro consiste no abandono de qualquer texto-centrismo, pois, como Rosa mesmo observa, “Quando se trata de música popular, é quase impossível separar a melodia da letra; quando se trata de Lupicínio, torna-se impossível desvincular melodia, letra e canto”. Nesse sentido, ler o texto de Rosa é também ouvir a música e acompanhar o ritmo da escrita melódica de Lupicínio. Essa sabedoria de Rosa, que nos obriga a ver-ouvir, é o que destaca o grande potencial filosófico de Lupicínio, um filósofo das dores-de-cotovelo como talvez nunca tenha havido. Filósofo sim, ou poeta-filósofo, como o próprio Lupicínio de dizia (“Eu sou um poeta muito mais filosófico do que lírico”). Daí, cantar como condição para o pensar e o voar é uma das maiores lições desse livro que Rosa, como discípula de Zaratustra e de Lupicínio, nos ensina. Por tudo isso e muito mais