Para entender a crise política que redundou no impeachment de Dilma Rousseff é necessário tomar em consideração uma dimensão da vida social cuja importância é ignorada ou descurada na maioria das análises disponíveis. As facetas mais visíveis da crise como a polarização política na eleição presidencial de 2014, a disputa ideológica do neodesenvolvimentismo com o neoliberalismo, as grandes mobilizações de rua pró e contra o governo Dilma, a Operação Lava-Jato e outros embates que marcaram ou que ainda marcam a cena política nacional devem ser explicadas recorrendo não só aos valores e à organização desses movimentos e instituições, mas, sobretudo, aos conflitos distributivos de classe que atravessaram e atravessam a sociedade brasileira. O exame multifacetado desses conflitos e de suas complexas relações com os embates que agitam a cena política nacional talvez seja a principal contribuição de Reforma e crise política no Brasil.