Habitualmente uma mãe good enough, apenas boa, introduz o campo da linguagem junto com uma intrincação pulsional.Dada essa intrincação, o gozo de uma pulsão está limitado pelo gozo das outras, não se faz de uma pulsão um terreno de gozo, como quem diz um terreno de caça, do corpo do filho.Não é fácil, para uma mulher, tornar-se A mãe. Não lhe seria possível o enorme trabalho e a gigantesca responsabilidade de criar uma criança se não fosse porque esta lhe proporciona a ocasião de estancar a ferida de sua falta fálica.Pênis: criança. Essa equação simbólica, descoberta deslumbrante de Freud, fundamenta o habitual desejo feminino de maternidade. É por essa mesma equação que não é simples para uma mãe resistir à queda no fácil tobogã do exercício, sobre seu rebento, de um permanente gozo fálico.Clinicamente, esse gozo se vetorializa pela via da acentuação do gozo de uma pulsão que, desintrincada do resto, faz do corpo da criança uma espécie de terreno reservado a seu exclusivo arbítrio.Os conselhos de criação de pouco servem. É só a partir do saber inconsciente que uma mulher tornada mãe encontrará a lei que lhe impede esse exercício nefasto.Quando isso não acontece, em vez de primar numa criança a significação fálica (a que afirma que uma criança não significa a falta da mãe, faz ver à mãe o real do real), quando a mãe goza falicamente da criança de forma permanente, a criança será garante da obturação do furo real da mãe. Para o filho, o embate do gozo fálico da mãe, que em geral toma a forma de uma demanda pulsional desintrincada, é vivido como gozo do Outro.