O avesso da lâmpada trata de uma reafirmação, sempre ampliada, de uma poética que já está lá, nos livros anteriores, e segue em sua sempre nova geografia de ideias, na qual o sonho e a visão imagética são matéria-prima, mas não só. Ainda que as imagens (oníricas, tão caras aos surrealistas) prevaleçam nos poemas mais prosaicos, é visível também uma preocupação formal com a concisão, o que o distancia (ainda que o diálogo com a tradição permaneça) daquele movimento e o distingue pela construção de uma linguagem própria e uma sintaxe singular, sabendo tratar-se de um trabalho árduo, esse da arte com espinhos. A temática dialoga com o aqui e o agora, desde o punk rock (The Clash), passando pelo inevitável tema metalinguístico (as palavras têm febre ou cultivo um sincretismo modulado), culminando com a surpreendente série de 30 poemas cidade rabiscada, que devo confessar, foram os que mais me tocaram. [...]