DESAPEGODeixou seu filho amadoNaquele lugar no qual ela não mais caberiaAninhou-o com ternuraAjeitou os troncosVerificou as folhasVirou as costasE partiuVoou o mais alto que pôdeLágrimas escorrendo pelos olhosA lei das coisasFalou mais alto do que a lei do coraçãoAinda em pleno voo sentiuA força do ventoOuviu o barulho das garças Que planavam em seu trajetoFechou os olhos e agradeceuPor que ela agradeceu?Porque teve um filho bonito SaudávelFortePorque pôde vê-lo crescer e se desenvolverAcompanhou seus primeiros passosOuviu seu lindo piadoAbraçou-o em suas penas e sentiuO calor de suas asasO encanto dos seus olhosPorém com o tempo... a casa ficou pequenaPara elaNão para eleEntão as mudançasSeguiram sua ordem natural:Ela devia partir.Ele já se zangava com a sua presençaHomem feito, dono da própria verdadeJá sabia voarJá sabia se alimentarEra chegada a sua horaEla precisava se mudarE assim, na manhã daquele dia, ela foiSem dizer AdeusAninhou-o com ternuraAjeitou os troncosVerificou as folhasVirou as costasE partiuAdma Silva de Limavencedora do Prêmio Poesia Agora - Inverno 2018