O jornalista e escritor René Fülöp-Miller, consagrado biógrafo de várias figuras históricas, fez de Os santos que abalaram o mundo um belo e profundo estudo que demonstra a forte influência exercida – tanto em seu tempo quanto na história – pelos santos da Igreja Católica. Fülöp-Miller, no entanto, preferiu retratar tais cânones a partir de sua humanidade. Os santos, segundo o autor, foram pessoas normais, com medos e anseios, que descobriram estar ligadas a uma força muito mais poderosa do que todos os seus desejos. Resolveram, dessa forma, abdicar de suas vidas carnais para se dedicar a Deus.Fülöp-Miller afirma que todos os princípios humanos dos quais os homens e as mulheres dos dias atuais sen-tem tanto orgulho – o ideal de justiça social, o credo democrático, o desprezo por todas as formas de preconceito racial, a importância da mulher na estrutura política, a liberdade intelectual – são uma herança de um passado baseado na fé divina. Os santos foram pessoas à frente de seu tempo que se tornaram os responsáveis pela proclamação de valores culturais que, até hoje, a civilização luta para preservar. Dentre os mais de 25 mil santos reconhecidos pela Igreja, o autor selecionou os cinco que considerou mais representativos: Santo Antão, Santo Agostinho, São Francisco de Assis, Santo Inácio e Santa Teresa. Assim, dividiu o livro em cinco partes, cada uma contendo uma esclarecedora biografia devidamente comentada. Cada santo retratado conseguiu aperfeiçoar um aspecto do caráter de Cristo – isto é, do perfeito ideal de humanidade – para servir como guia aos demais indivíduos. São eles, respectivamente: a renúncia, a inteligência, o amor, a vontade e o êxtase. Fülöp-Miller, no entanto, não se restringiu a escrever uma série de ensaios independentes. Os santos que abalaram o mundo prima pela coesão, consistindo em um trabalho uniforme sobre o complexo fenômeno da santidade. Influenciado por psicanalistas como Freud e Forel, o autor traça uma análise do caráter psicológico dos santos estudados. Santo Antão, o santo da renúncia, inspirou o movimento monástico ao abdicar da vida na esfera material. Já Santo Agostinho, teólogo e filósofo, foi responsável pela obra Cidade de Deus, que serviu de modelo para algumas das principais teorias políticas surgidas nos séculos seguintes. Foi, assim, classificado como o santo da inteligência. O santo do amor é São Francisco de Assis, por considerar que a devoção e a piedade surgiram a partir desse sentimento. Santo Inácio, por sua vez, está representado pela força de vontade, pois registrou – nas obras As constituições e Exercícios espirituais – que esse esforço seria a maneira de não se apegar ao mundo carnal. E Santa Teresa, tida como a santa do êxtase, foi capaz de se concentrar em um universo interior e espiritual enquanto o mundo à sua volta vivia uma fase estrita-mente científica.Os santos que abalaram o mundo foi traduzido para nove idiomas e ainda hoje é sucesso em todo o plane-ta, várias vezes retornando à lista de best-sellers. É uma leitura fascinante que se faz obrigatória não apenas para religi-osos e historiadores, mas para todos aqueles que estejam dispostos a aprender com a vida de pessoas que renunciaram à individualidade em troca de um único ideal: o amor em sua plenitude.