A obra completa de Manoel de Barros: um grande presente para os leitores Reconhecendo o valor e a importância de um dos mais destacados poetas brasileiros, Manoel de Barros, a LeYa publica neste fim de ano duas jóias para os apreciadores dos versos simples e carregados de sentido, que contam a natureza e a infância de forma singular. A primeira é uma edição de luxo da Poesia Completa em formato brochura, que conta com um poema inédito e também com o volume "Escritos em verbal de ave", publicado pela Leya em 2011. E a segunda, carinhosamente chamada de "A Biblioteca do Manoel", contém 18 livros, inclusive os infantis, em novas capas e projeto gráfico inovador. Trata-se de uma chance única de ter em casa a obra completa deste poeta genial, tratada com o carinho e esmero que exige sua estatura. "Nasci para administrar o à toa/ o em vão/ o inútil", escreveu, certa vez, Manoel de Barros sobre seu ofício. À poesia, "a mais verdadeira maneira séria de não dizer nada", importariam as coisas que não levam a nenhum lugar. O poeta que enaltece a "vagabundagem profissional" e o estar à toa tem para si um sentido especial de ócio. Estar consigo, com sua imaginação, suas leituras e prazeres solitariamente, é o seu ócio. Para ele, a poesia esteve presente desde muito cedo no olhar do menino para as pessoas e coisas do seu entorno. Segundo um de seus livros, o primeiro poema teria sido feito aos 13 anos: "Aquele morro bem que entorta a bunda da paisagem", disse ao olhar, do Pantanal, onde morou, para os longes da Bolívia. Foi a primeira "iluminura" que fez a mãe dizer: "Agora você vai ter que assumir as suas irresponsabilidades". Compreendendo o peso das palavras da mãe, ele diz ter assumido, entrando "no mundo das imagens". O primeiro livro publicado foi Poemas concebidos sem pecado, em 1937, prosa poética iniciada com a história do menino Cabeludinho, que deixou a família para estudar no Rio de Janeiro e voltou ateu. Manoel tinha 21 anos e a certeza do que queria fazer. Muitas décadas correram até chegar um reconhecimento maior, o que possivelmente explica o volume de produção grande nos últimos anos. Ele já era um senhor de mais de 70 anos quando Millôr Fernandes descobriu seus poemas e escreveu uma crítica fazendo estardalhaço sobre certo poeta "de verdade" que o Brasil precisava conhecer. Manoel, que nasceu em Cuiabá e foi menino para o Pantanal, viveu quase 40 anos no Rio de Janeiro. De lá, migrou uma vez mais para o Pantanal, para suceder ao pai na administração da fazenda de gado da família. Dez anos à frente da fazenda e o poeta quis mudar de novo. Foi com a mulher e os três filhos para Campo Grande, sua atual morada e onde escreveu quase todos os seus livros.