O conceito quase-cinema exposto por Hélio Oiticica para a força plástica resultante de vídeos-de-artista poderia - quase poderia - servir para designar estes impactantes poemas de Fernando Fábio Fiorese Furtado, acrescendo-lhes os nomes possíveis de quase-pintura, quase-soneto.A imagem de um amplo e duplo sentir e ver gera o acontecimento forte, e de contido afeto, do livro inteiro: o encontro. Mais do que encontro, o amálgama indissociável que pulsa e age na febril tensão pai-filho-pai-filho, construindo um quase-outro, uma personagem diversa e multiplicada em que se articulam as relações, também indiscerníveis, entre prosa e poesia, imagem livre e sentença seguida, formando, portanto, no todo, uma quase-narrativa. A habilidade emocional e crítica do saber poético de Um dia, o trem situa-se, para além dos vocábulos em si, nos ritmos, nos cortes, nas curvas, nos cernes rímicos, plurais e vastos; torna-nos leitores, espectadores, ouvintes.Nele, viveremos entre o que há do sagrado da queda e do milagre do não-poder .De inumeráveis lentes-bitolas-línguas vale-se o homem que - dentro / fora - escreve, unindo imagem e imagem, ente e ente, dedos e dedos. Assim, trilhos e mapas de menino em carne desenham-se.