A partida foi reiniciada, mas algo fora do gramado me chamou atenção. Em cima da marquise central da superior, uma figura cintilava. Trajava vestes encarnadas e trazia às costas inenarráveis asas da mesma cor. A plumagem do arcanjo rubro descia dos céus e roçava a coréia. Estático, com as mãos abertas, parecia abençoar a multidão, alheia à sua presença. Meu coração não batia. O espectro fechou os olhos e apontou a destra para a goleira do placar eletrônico. A cidadela de Figueroa. De Claudiomiro. O arco do gol mil. A meta da mágica tabela de Escurinho e Falcão. A baliza iluminada. Sobrenatural. A goleira divina. Seguindo o seu movimento, enxerguei Tinga agachar-se e ouvi o Gigante gritar como nunca havia feito antes. As lágrimas embaçaram minha visão. Me voltei para o telhado que traz a inscrição da maior torcida do Rio Grande. Mahicon Librelato não estava mais lá.