História da Guerra Brasílica, de Francisco de Brito Freire, é pouco conhecida hoje.No entanto, até o século dezenove, era citada e fazia parte do acervo comum dos nossos primeiros cronistas. Francisco de Brito Freire nasceu no Alentejo, por volta de 1625, de família abastada que possuía terras e engenhos na Bahia. Em 1653 foi nomeado almirante da frota da Companhia de Comércio do Brasil, que desfechou o golpe final na resistência holandesa em Pernambuco. Do mar passou à administração em terra: governou a praça de Jerumenha (1658) e a capitania de Pernambuco (1661-64). De volta a Portugal governou a cidade de Beja (1665). Em 1669, por ter-se negado a conduzir o rei deposto, D. Afonso VI, à Ilha Terceira, nos Açores, foi preso na Torre de Belém e, depois, na de São Julião. Foi durante o longo cativeiro que escreveu a História da Guerra Brasílica.Faleceu em Lisboa em 1692.No seu período como governador de Pernambuco, Francisco de Brito Freire teve que lidar com uma capitania desestruturada, ainda sob o efeito da guerra e da expulsão dos holandeses. Restaurou prédios públicos, inclusive com recursos próprios, e teve o bom-senso de se preocupar com a herança arquitetônica, tanto holandesa quanto portuguesa, e de não entrar na rixa que havia entre Olinda e Recife. Teve uma atitude pacífica ao tentar evitar o massacre dos índios tapuias, antigos aliados dos holandeses, criando um aldeiamento coordenado pelo padre João Duarte do Sacramento. Neste sentido, Francisco Brito parece ter afinidades com o padre Antônio Vieira, de quem recebe uma afetuosa carta pouco antes de sua morte. Francisco Brito tem uma preocupação com o modo como constrói sua narrativa e também preocupação estética, pois o cuidado gráfico que acompanhou a edição de seu livro é considerada um dos pontos altos da tipografia portuguesa do século XVII (a edição fac-similar com a diagramação original pode ser conhecida no CD-ROM que acompanha o livro). A historiadora Mary Lucy del Priore, em resenha para o Caderno Idéias do JB, com muita propriedade diz: “... expulsão dos holandeses narrada como um romance de aventuras em livro da época... Capa-e-espada brasileiro”.