O presente estudo se detém sobre os movimentos artístico-culturais ocorridos na cidade do Crato, no Ceará, durante as décadas de 70 e 80. A partir da análise de fontes orais inéditas e de material de divulgação da época, procurou-se deslocar o eixo tradicional das idéias fundantes sobre a região do Cariri, tentando analisá-la sob a ótica da multiplicidade e do devir. Nesse percurso, o conceito de memória tornou-se um importante aliado, sobretudo no que diz respeito à capacidade de perceber as idéias de tradição e modernidade de forma adjetiva, em um patente exercício de auto-invenção da região pelos artistas ora enfocados. Os entrevistados identificavam-se com a idéia de "marginalidade", ao tempo em que valorizavam os movimentos de juventude característicos da época. Por outro lado, informados por uma geração de intelectuais locais que lhes antecedeu, não abandonaram o telurismo e o apego às idéias de passado e tradição. Assim, a partir dos depoimentos, Roberto Marques, neste livro, mostra como idéias aparentemente tão contraditórias como as de modernidade e tradição, local e mundial, articularam-se em projetos de identificação caracteristicamente modernos.