Após ser aclamado como o melhor escritor em língua francesa da atualidade, o belga Jean-Philippe Toussaint brinda o leitor com mais uma obra de belíssima simplicidade. Em Fugir, vencedor do Prêmio Médicis, Toussaint faz - respaldado ainda pelas trajetórias de cineasta e fotógrafo em seu currículo - uma literatura baseada em imagens e sensações. O protagonista nos guia por uma viagem, também onírica e existencial, através do Oriente, mas a impressão é que não houve partida e o destino jamais será avistado: uma sensação de estar fora do lugar, sempre em trânsito, dá tom à narrativa. Fugir é uma obra surpreendente sobre a existência e as relações humanas. Incumbido da missão de levar um envelope a um homem que não conhece, sem saber ao certo para que propósito, o narrador percorre - por avião, trem, moto, barco ou cavalo - Xangai e Pequim, atravessando paisagens e amores, abandonando a si mesmo para acabar por se reencontrar num eterno trajeto que se confunde com a linha de chegada. Fugir é uma obra extremamente literária, mas, em seu movimento perpétuo, também dialoga muito com o cinema - sua leitura oferece o mesmo prazer de se assistir aos melhores filmes de Jean-Luc Godard e Wong Kar-Wai.