O senhor das horas, livro do mestre mineiro Autran Dourado, é composto por seis contos inéditos, protagonizados por personagens cujas vidas, quando vistas em retrospecto, são uma sucessão de perdas – da infância, da inocência, da virgindade, da juventude, da mulher amada, das tradições. Todos fazem parte de um passado distante, como o protagonista da novela que dá nome ao livro, o coronel octogenário Domingos Monteiro, que chegou à velhice pensando "na fatalidade do destino, na proximidade da morte, no fino e lento escoar das implacáveis areias do tempo, no vagaroso escorrer das fatais ampulhetas, nos cada vez mais precisos instrumentos com os quais os homens, através do tempo e na sua angústia, procuram domesticar as horas, para enterrá-las no sarcófago do tempo". Autran Dourado leva o leitor a acompanhar vidas movimentadas e modorrentas, bem vividas e desperdiçadas, longas e breves. Entre elas, o único ponto em comum é o fim inevitável, que chega para todos. No conto Morte gloriosa, o autor apresenta Bê P. Lima, homem que vive como bon-vivant e morre como uma piada triste, fisicamente incapaz de gozar dos prazeres que sempre valorizou. Já Oriosvaldino Cunegundes, eixo central da novela O herói de Duas Pontes, é visto em seu primeiro dia de aula, sua primeira briga de escola, seu primeiro castigo físico, seu primeiro barbear, seu primeiro amor e sua primeira decepção amorosa, até que seu último ato impensado o leva a morrer como um herói acidental na Revolução Constitucionalista de 1932. Embora O senhor das horas nada tenha de erótico, vale notar que o sexo, tema ao qual Autran Dourado sempre quis dedicar um romance, é presença constante nas páginas do livro.