Compostas para piano solo entre 1938 e 1943, as famosas Valsas de Esquinade Francisco Mignone (1897-1986) dispensam maiores apresentações. Abrangendo todas as 12 doze tonalidades menores, despertam no seu ouvinte/intérprete um imaginário urbano das serestas, choros e valsas das esquinas brasileiras, das ruas da Pauliceia do início do século XX. Se, por um lado, elas refletem a preocupação do compositor em atribuir e afirmar uma brasilidade à valsa, por outro, hoje podemos pensá-las dentro de uma poética musical que, somadas às 12 Valsas-Choro, às 24 Valsas Brasileira s e outras valsas, extrapola as ideologias nacionalistas e se firma como uma voz criativa, original e individual de um compositor extremamente consciente dos caminhos da composição erudita e popular e das técnicas pianísticas. Como diz o próprio Mignone, em conhecido depoimento de 1968 ao MIS/RJ: Comecei a escrever, mas essas Valsas de Esquina, que parecem escritas de um jato só, algumas levaram meses até eu conseguir elaborar e tornar simples, sem parecer uma coisa vazia. Foi muito difícil. Trabalho que rendeu homenagem de outra uma poeta, Dora Ferreira da Silva, em seu poema Valsas de Esquina de Mignone: Só um pássaro/ e seu peso de orvalho tocando/ o chão como se foram teclas [...]/ dança a vida/ nos jardins contentes/ não termina a partitura/ que se repete/ sempre. Esta edição das 12 Valsas de Esquina conta com prefácio da pianista Miriam Grosman e revisão e supervisão técnica de Maria Josephina Mignone.