Sonho interrompido por guilhotina é uma babel literária habitada virtual ou fisicamente por contos, com textos híbridos que juntos podem ser classificados como um romance desmontável em chamas. O livro é um compêndio que prima pela ousadia. Literatura ao vivo e em cores, estética do inusitado, simulacro que reflete o caos urbano das grandes cidades, metáfora para o impasse literário. Um grau de inquietação suficiente para causar ruídos e estrondos em quem se depara com os personagens de Joca Reiners Terron em Sonho. Talvez essa seja a principal intenção do autor mato-grossense radicado em São Paulo ao eleger como personagens os escritores Valêncio Xavier, Glauco Mattoso, José Agrippino de Paula, Raduan Nassar, transformando-os em alvos de sua reflexão, mas também de sua vingança. Além de apontar tendências e sugerir revelações, nas referências e cenas retratadas, o ambiente das histórias indica que Terron sonha acordado com a desconstrução e o desequilíbrio necessários para extrair da literatura o que há de mais precioso e original. Suas maiores aliadas (qualidades) são a criatividade e a antropofagia literária. Os sonhos são entrecortados pelo tom rebelde e propositivo do autor. O leitor, quando dá por si, já se encontra imerso em algumas das 16 histórias que o narrador, seja ele esento ou não, em vez de conduzir, entrega o leitor à própria sorte. No livro, a relação de autoridade do autor sobre o leitor é quebrada pela interatividade surgida ao longo do trânsito livre de palavras.