A família descrita nesta obra poderia ter sido conhecida de todos nós; a garota poderia ter sido amiga de sua filha, uma prima ou sobrinha e os dois rapazes, iguais aos garotões sarados que lotam as ruas de São Paulo, amigos de seu filho, ou mesmo, infelizmente, com traços que reconhecemos em nossos próprios filhos e que respiramos aliviados e nos perguntamos: por que aqueles pais? A cidade, como o bairro do Brooklyn, tão conhecidos por nós, a nacionalidade alemã e os descendentes paulistas dos alemães, de quem sempre ouvimos falar e até convivemos, nos causou mal-estar, como se tivessem sido manchados novamente. Uma mancha comparável à do nazismo (desculpem o exagero), sem que tivessem a mínima culpa. Crueldade, frieza, ausência de humanidade, barbárie, características humanas que percorreram a história, muito antigas e demasiado modernas. Todas se concentraram numa espécie de extrato na alma dos três assassinos. Michel Foucault, em seu prefácio da Historia da Loucura nos diz: “Sou o autor – observem meu rosto e meu perfil; é a isto que deverão assemelhar-se todas essas figuras duplicadas que vão circular com o meu nome; as que se afastarem dele, nada valerão e é a partir do seu grau de semelhança que poderão julgar o valor dos outros. Sou o nome, a lei, a alma, o segredo, a balança de todos esses duplos.”