Frio magma é rocha fundida no subterrâneo que vem à superfície e corre lambendo o solo, lava que resfria e fabrica o mundo. Disso é feito o livro de Leonardo Araújo: do choque de temperaturas que muda estados físicos; do absurdo cotidiano que transborda quente e forma o chão da cidade que é Fortaleza em várias das suas nuances, mas que é também qualquer lugar que construímos dentro do corpo que pressente o assombro. A capital alencarina, assim como nosso próprio desamparo ou mesmo a mistura entre crença e descrença no agora e no depois, nos encontra, ao mesmo tempo, na pele suarenta do caçador personagem que guarda os segredos do mundo em latas de leite, na solidão do Edifício Rubi e ainda no cansaço e na rouquidão que guardam as palavras ditas por um navio-fantasma. A suavidade das cascas de manga, o amor desavisado da morte e as mentiras que o passado conta formam esse oceano vermelho-alaranjado de poeira e vento que Leonardo Araújo anima em Frio magma. (...)