Quando publicou seu primeiro livro de poemas, Nefesh, em 2014, que tive a honra de editar, Nitiren Queiroz já explorava com segurança os aspectos sensoriais da linguagem, sua interface com dimensões que extrapolam o mero jogo entre o som e sentido, para alcançar o registro de percepções imediatas ao corpo, ao movimento, à relação coreográfica do poeta com o entorno: a palavra tangenciando o gesto, do desejo à revolta, do canto ao grito. Para o poeta, como para os povos ameríndios, as palavras têm alma e são o alento de tudo que vive: nefesh. Não foi à toa que o filósofo Platão, cioso pela busca da verdade num mundo feito de sombras, via com perplexidade a pretensão de poetas ao emular a fala dos deuses. É nessa fronteira entre dizer e ser, nomear a experiência e fazer da palavra uma extensão de nosso corpo e psique, que o poema se engendra. [...]