Ah, Zezé, por que fui ler este livro? Guto Lins apresenta um poema manifesto, um álbum social, uma denúncia ao abandono da infância que sobrevive às ruas e a seus riscos. Tem Zezé de sul a norte, de oeste a leste neste país, neste mundo. O traço, as colagens, as texturas e as fotografias, tudo escolhido por um artesão atento, que constrói um caleidoscópio de olhares. São diferentes digitais impressas no livro que convidam a nós, leitores alfabetizados, a perguntar sobre nossa digital na sociedade. No início eu fui virando as páginas e reconhecendo cenários de tantos Zezés que encontro pelas ruas. Conforme avançava por essa narrativa sensível, que combina palavras e imagens, descortinava sobre meus olhos a privação de direitos como o brincar, a poesia ou uma identidade para Zezé. O chão sumiu e com meus pés balançando pelo ar questionei o horizonte. Ah, Zezé, agora eu posso te responder. Fui ler este livro porque ele propõe um diálogo.