COM A CABEÇA NA LUA ou a incrível história de um nariz perturbador* Quando conheci o Glauco fiquei duplamente feliz. Primeiro porque ele trouxe um certo alívio ao humor brasileiro e segundo porque, enfim, havia encontrado um nariz maior que o meu. Aliás, muito maior. Tanto que ao desenhar sempre borra de nanquim a ponta do dito cujo. Mas deixando o nariz de lado - o que é difícil devido ao seu tamanho - Glauco chegou arrasando. Os carrascos habitavam com desenvoltura o humor brasileiro. Nós, cartunistas, com raras exceções, tratávamos essas repelentes figuras como um monstro invencível. Efeitos de uma época. Mas Glauco apareceu com um cartum onde o torturado, pendurado pelas mãos por fortes correntes, estica a perna para alcançar o traseiro do sisudo carrasco e, com cara de safado, diz: "Bundão, hein!?". Quebrou tudo! Foi-se pras picas toda aquela oposição respeitosa que fazíamos nos últimos anos do governo Geisel. Não sei se é pelo comprimento de seu nariz, mas Glauco está sempre na frente. Seus bonequinhos saltitantes, neuróticos, cheios de membros (braços e pernas, não me entendam mal!), têm todos a mesma cara. Sim! É verdade. Nos cartuns do Glauco tanto o oprimido quanto o opressor têm a mesma fisionomia. Eles trepam, brocham, escovam os dentes, fazem cocô, têm medos e se borram todos. Nosso demônio narigudo não perdoa nenhum dos dois. Ele simplesmente mostra o quanto é ridículo esta coisa chamada ser humano, seja ele poderoso ou não.