Em toda a parte, a linguagem e a palavra falada aparecem, ao mesmo tempo, como sintoma e como problema. Poucas vezes ela aparece como portadora de afirmações e de promessas, a não ser para afirmar o caráter inautêntico e decadente dos tons festivos que tudo prometem. Quem usa a palavra nas condições concedidas - de modo burguês, político, acadêmico, jurídico, psicológico - encontra-se sempre em desvantagem e busca, em vão, meios para pagar e reescalonar afirmações que ultrapassaram os limites do crédito. Quem fala, contrai dívidas; e quem continua falando, fala para pagar. O ouvido é educado para não dar crédito e para interpretar a sua avareza como consciência crítica. Nas páginas que se seguem Sloterdijk tenta retomar a idéia nietrzscheana de linguagem, apenas esboçada por ele, tentando prolongá-la no futuro, a partir de um ponto de vista contemporâneo. Para isso, precisa contar com a possibilidade de que a máxima nietzscheana: "toda nossa filosofia nada mais é do que retificação do uso da linguagem", assuma significados capazes de ultrapassar a interpretação criticista.