Apoiada em cuidadosa etnografia, que muito se beneficia das extensas e íntimas experiências de seu autor, este trabalho desenvolve uma narrativa apaixonante, sem precedentes na antropologia brasileira. Muito mais do que um estudo sobre a escola indígena, este livro nos propicia uma etnografia densa e compreensiva sobre a família e a organização social dos Ava Kaiowá. Ao invés de nos propor um modelo único do que seja (ou deva ser) o Ava Kaiowá, o autor aponta uma alternativa analítica que contempla a variação, apresentando-nos ao modo de ser múltiplo (Ava kuera reko reta). Já no ato de partida, precisamos afastar-nos das velhas chaves analíticas sobre a situação e a observação etnográfica. É o caso do tropos das viagens bem como de imagens só aparentemente claras e unívocas (como nós e os outros), que se revelam mais frequentemente como verdadeiros obstáculos ao conhecimento. Que esta narrativa possa, então, instigar-nos a refletir de maneira mais crítica sobre os novos horizontes teóricos e epistemológicos que se abrem ao exercício contemporâneo da etnografia. É uma circunstância feliz que este trabalho venha a iniciar a coleção Os Primeiros Brasileiros, que já por seu título e inspiração chama atenção para a umbilical conexão entre a produção de conhecimentos sobre os povos indígenas e a reafirmação de seus direitos fundamentais. João Pacheco de Oliveira professor titular, Museu Nacional/UFRJ.