Estereótipos - declaram estudos recentes sobre este antigo tema da Psicologia - não são apenas suportes dos preconceitos contra grupos e sujeitos sociais; são também, e principal, parte necessária da formação de nossa própria identidade individual e social. Em O Caminho das Águas, a personagem feminina negra, construída sobre o estereótipo da mulata sensual, é vista pelo prisma da construção da identidade profissional de quatro escritoras brancas que escrevem para jovens: Odette de Barros Mott, Lucília Junqueira de Almeida Prado, Giselda Laporta Nicolelis e Mirna Pinsky. A autora analisa o processo de criação e a trajetória profissional das escritoras, retirando o estereótipo de sua imobilidade, acompanhando suas transformações em metáforas e símbolos do prazer de criar, da conquista de novos modos de ser e de pensar o mundo que as mulheres escritoras experimentam, em momentos específicos de suas vidas profissionais. A água, como símbolo de transformação, é o ponto máximo alcançado pelo estereótipo da personagem feminina negra, que agora, contraditoriamente, expressa tanto os preconceitos negativos que pesam sobre mulheres negras, quanto simboliza o dinamismo e a renovação na escrita e na trajetória profissional de suas criadoras brancas.