Harry Potter representa, perante a maioria, um grande sucesso comercial. Mas isto não o faz diferente de qualquer coisa; já que sabemos que qualquer coisa pode vir a ser um sucesso nos mesmos termos. O que chama a atenção da pesquisadora Paula Vianna é que as propostas da série não condizem com as preferências que se asseverariam lógicas no seio de uma sociedade tecnocrata: Por que a magia, sendo uma palavra para a qual destinam-se displicentemente as sobras incompreendidas da transformação contemporânea, é capaz de manter a atenção, e devoção, por parte do homem emancipado e autônomo dos dias que correm? Com sagacidade e perspicácia, a autora conduz-nos pelos meandros da nossa própria natureza, tecendo um discurso que transcende por muito o conformismo do mero exercício acadêmico. Guiada pela möszai que outrora o bruxo Platão apontara, a autora não se rende à teimosa epistemológica que a reconhece comunicadora. Sem temor de dissolver seu título, reaproxima jargões decepados de uma totalidade que stá decidida de entrever. Tudo a serviço de reconhecer, até mesmo no gesto mais banal da artificialidade hiper-moderna, a natureza humana profunda à espera de redenção, de reconhecimento e liberdade; mas não livre arbítrio. Liberdade que se consuma apesar de si.