Erraria quem tomasse as Meditações sul-americanas de Hermann Keyserling (1880-1946) tão-somente como apontamentos de viagem. O confronto vivencial e reflexivo com o outro quer-se aqui filosofia. O assédio da alteridade não desafia menos os sentidos do que a razão: seu impacto proporciona um poderoso impulso ao pensamento do autor, tornando disponível para o trabalho do conceito todo um leque de novas perspectivas e dimensões. Em face do continente do terceiro dia da criação dos modos de ser de seus habitantes, Keyserling toma consciência - entre a vertigem e a lucidez - dos abismos terrenos do existir, dos imperativos naturais da fome e do medo originários, das leis do sangue e do destino, da gana e da delicadeza.