A proposta deste livro é questionar se a infelicidade não seria inerente ao ser humano A proposta deste livro é questionar se a infelicidade não seria inerente ao ser humano independentemente, ao menos em grande parte, das condições econômicas, sociais e culturais do momento histórico em que vive. Nos últimos dois séculos, as solicitações para a felicidade vêm sendo tão numerosas e urgentes, quase obrigatórias, que acabaram por levantar algumas questões. O direito à felicidade nasceu do anseio irreprimível de se libertar do jugo secular da precariedade da existência, da fome e da pobreza, das guerras e da destruição em massa - inclusive por parte da natureza -, que acabaram por condenar grande parte da população mundial. A infelicidade, a tristeza e a melancolia vêm sendo, de fato, vivenciadas pela maior parte das pessoas como sintomas de doenças ou manchas que precisam ser eliminadas, ou ainda como resistências insuportáveis à ideia de que o progresso significa positividade absoluta, otimismo impecável ou ainda a prefiguração de uma sociedade perfeita. O preço pago por isso é a anulação de nossas dúvidas e de nosso pensamento crítico. A vida, assim, passa a ser uma vitrine de brilhantes luzes coloridas, e a existência se transforma em uma corrida no sentido de acumular bens materiais que possam compensar aquilo que achamos que perdemos em termos de relações e emoções. No fim, a identidade acaba sendo forçada a abrir mão de sua sombra, enquanto a insegurança é aplacada para ceder lugar a um brilho ofuscado.