Um caso de assombro é velado dentro destas páginas. O mergulho é rápido, de conto em conto, para ter certeza de que a calmaria precede a tempestade. Navegando no fantástico mundo real, a leitura é um passeio por um solo firme, brasileiro, recheado de personagens de fino trato, até onde o trato pode ir. Que o pensamento posto em papel só faz falar da coragem de pessoas comuns em situações tramadas com surpresa pelo autor anfitrião. Esse é o grande truque, a surpresa de haver ali tantas coisas com as quais nos identificamos. Deslizamos suaves de uma manhã com o tio Gumercindo em seu pós morte e logo voltamos atrás, para o caso vampiresco de sentimentos amargos, pois relemos com gosto pra desvendar: foi isso mesmo?. Pode acontecer de o cérebro pregar um truque ou dois, entramos nos eixos assim, em escala de amor, amor em perplexa ironia. Por causa de quem nós nos perdemos? Do flerte passado, do trabalho atrasado, do amigo enrascado, das festas solitárias dentro de nossos pensamentos. Há muito para vermos de cada personagem. Em O pecado da tristeza, José Geraldo Gouvêa dialoga com o leitor sem qualquer restrição em tratar dessas saudosas desventuras, temperadas com detalhes tão vivos, dos cacoetes, dos suspiros, da poeira, da música, da vida que é um fio. Um fio que se estica para fazer notar suas saliências.