A Cena Contaminada, de Jose Tonezzi, parte de uma concepcao de anomalia (a surdez, a deformacao, a loucura, as disfuncoes cerebrais) que invade e ocupa o teatro para instalar-se como contagio cultural. E resultado de um campo devastado, onde a vida afloraA Cena Contaminada, de José Tonezzi, parte de uma concepção de anomalia (a surdez, a deformação, a loucura, as disfunções cerebrais) que invade e ocupa o teatro para instalar-se como contágio cultural. É resultado de um campo devastado, onde a vida aflora justamente do que restou: dos destroços, das sobras, das ruínas. A ocupação do teatro pelas disfunções do corpo, da mente e do comportamento não é fruto senão de uma relação que se institui ao longo do tempo. Como consequência, o que se faz notar aqui não é um tipo de procedimento simplesmente democrático, que dá voz aos excluídos e marginais da sociedade. Não é à inclusão que se refere quando se diz aqui contaminação. Ao menos, não no sentido de um bom-mocismo, de uma prática de tolerância ou de compaixão. Isso porque, devido às características inerentes à arte, como a apropriação, a subversão e o reprocessamento, a relação entre a cena e as disfunções tem um sentido implícito, corrosivo, transformador. Resulta numa contaminação estética, que tem origem do lado de fora, externa à caixa cênica. Sua ação é sorrateira e dissimulada, decorrendo numa prática invasiva, contagiosa, de intromissão. E, como acontece na invasão orgânica, as reações se dão como autodefesa, preservação e fortalecimento. Na cena, porém, o contágio não só traz dividendos estéticos como torna visível este estudo singular da bibliografia crítica na teatrologia brasileira. A Cena Contaminada, de José Tonezzi, parte de uma concepção de anomalia (a surdez, a deformação, a loucura, as disfunções cerebrais) que invade e ocupa o teatro para instalar-se como contágio cultural. É resultado de um campo devastado, onde a vida aflora justamente do que restou: dos destroços, das sobras, das ruínas. A ocupação do teatro pelas disfunções do corpo, da mente e do comportamento não é fruto senão de uma relação que se institui ao longo do tempo. Como consequência, o que se faz notar aqui não é um tipo de procedimento simplesmente democrático, que dá voz aos excluídos e marginais da sociedade. Não é à inclusão que se refere quando se diz aqui contaminação. Ao menos, não no sentido de um bom-mocismo, de uma prática de tolerância ou de compaixão. Isso porque, devido às características inerentes à arte, como a apropriação, a subversão e o reprocessamento, a relação entre a cena e as disfunções tem um sentido implícito, corrosivo, transformador. Resulta numa contaminação estética, que tem origem do lado de fora, externa à caixa cênica. Sua ação é sorrateira e dissimulada, decorrendo numa prática invasiva, contagiosa, de intromissão. E, como acontece na invasão orgânica, as reações se dão como autodefesa, preservação e fortalecimento. Na cena, porém, o contágio não só traz dividendos estéticos como torna visível este estudo singular da bibliografia crítica na teatrologia brasileira.