"O trabalho de Cássia Silveira traz uma grande contribuição à historiografia sul-riograndense ao analisar, com acuidade e inteligência, a composição e o funcionamento da Sociedade Partenon Literário, criada em Porto Alegre no dia 18 de junho de 1868 e considerada pelos estudiosos a primeira entidade significativa a reunir os mais expressivos intelectuais da Província. Porém, apesar de muito citada em obras de historiadores e críticos literários, os processos que levaram à sua constituição, as trajetórias de seus formadores, seus critérios e mecanismos de recrutamento e exclusão, sua dinâmica interna, suas redes de relações, seus conflitos, seu funcionamento concreto enfim, ainda eram pouco conhecidos. Silveira, de maneira competente e criativa, lançou luz sobre tais facetas do Partenon, permitindo o conhecimento não só da agremiação em si, mas também de muitos aspectos da vida intelectual e política porto-alegrense na segunda metade do século XIX.Deve-se destacar, contudo, que à história produzida pela autora não pode ser atribuída a alcunha de regional, como se faz, em boa parte das vezes, com as análises de processos históricos ocorridos fora do eixo Rio de Janeiro/São Paulo. Embora investigue uma associação criada na capital da Província de São Pedro e se debruce sobre os documentos presentes nos arquivos gaúchos, sua interpretação transcende em muito uma perspectiva localista, já que busca inserir seu objeto específico na dinâmica mais ampla dos jogos entre literatura e política no Brasil Imperial. Desta forma, traça comparações, estabelece relações e rompe barreiras geográficas a fim de entender como os homens e as mulheres que formaram o Partenon atuavam em um campo de possibilidades que transcendia Porto Alegre e envolvia, por exemplo, contatos com a Corte. Além disso, as opções teóricas e metodológicas adotadas pela autora podem servir de inspiração para outras análises interessadas em entender a literatura como um fato histórico, produzido por indivíduos concretos vivendo em contextos específicos, sujeitos a múltiplas determinações sociais, e não como algo transcendente e distante do comum dos mortais. Trata-se, pois, de um excelente exercício de história social da literatura. Some-se a isso a escrita envolvente e elegante da autora, capaz de captar a atenção não só dos especialistas, mas igualmente de todos os leitores interessados em conhecer melhor a história do Brasil, e de Porto Alegre em particular, no século XIX. Por tudo isso, recomendo fortemente a leitura desta pesquisa histórica acadêmica que, felizmente, agora se faz livro. Benito Bisso Schmidt Professor do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em História da UFRGS "