A obra já nasce como uma daquelas que precisavam ser escritas, diante de um contexto de aumento da discriminação, da miséria e violação de direitos fundamentais nos últimos anos no Brasil (...) desde o início do século XXI, ser igual passou a soar para alguns como ser desigual. Os instrumentos que a igualdade se vale são vistos, na perspectiva do privilegiado, como mecanismos de desigualdade injusta. Assim, estabelecer a igualdade mediante cotas para negros em universidades, por exemplo, seria, nessa visão, uma injustiça desigual para o privilegiado. O ser que não era categorizado, então, percebe seu espaço de atuação diminuir. Sua liberdade individual foi atacada, ao menos no seu imaginário. O que é suficiente, contudo, para resistir a qualquer iniciativa de correção histórica em relação à discriminação dos excluídos, ainda que a linha de largada na jornada da vida não tenha sido a mesma. (...)