As três primeiras décadas do século XX foram marcadas por relações ásperas entre o catolicismo institucional e a sociedade política, sobretudo, se considerarmos a difícil convivência da Igreja católica brasileira com os movimentos de laicização que se aprofundavam na cultura. Este livro reconstitui, a partir do ponto de vista da imprensa católica, e tomando como princípio o conceito de "integrismo católico", a série de tensões, conflitos, mas também o gradativo reatamento das alianças entre Estado e Igreja, colocando ênfase no espírito de missão e no militantismo dos propagandistas da revista mariana Ave Maria, um dos periódicos católicos mais antigos do Brasil. As balizas cronológicas (1908-1937) auxiliam a compreender como algumas instâncias da Igreja católica no Brasil recepcionaram e interpretaram a crise instalada no catolicismo com a condenação do modernismo pelo papa Pio X, e os modos pelos quais a crítica antimoderna produzida pelas organizações católicas, em especial, a imprensa, foram apropriados para uma realidade histórica específica, tendo como referência a "síndrome recorrente" denominada integrismo. Diante da questão modernista, e dos avanços e recuos das políticas laicizantes no Brasil, o integrismo católico adquiriu múltiplos significados. Desse modo, ele não é entendido pelo autor meramente como uma heterodoxia ou uma irrupção de forças religiosas arcaicas ou obscurantistas na medida em que, a depender de contextos históricos determinados, pode vir a transigir com regimes políticos cuja marca são discursos modernizadores, e ações políticas autoritárias e excepcionais. O livro nos alerta sobre o quanto são tênues as fronteiras entre religião e política.